quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A fé e a inteligência

A vida de oração e de penitência, e a consideração da nossa filiação divina, transformam-nos em cristãos profundamente piedosos, como crianças diante de Deus. A piedade é a virtude dos filhos, e, para que o filho possa confiar-se aos braços de seu pai, deve ser e sentir-se pequeno, necessitado. Tenho meditado com frequência nesta vida de infância espiritual, que não se contrpõe à fortaleza porque exige uma vontade enérgica, uma maturidade bem temperada, um caráter firme e aberto.

Piedosos, pois, como meninos; mas não ignorantes, porque cada um deve esforçar-se, na medida das suas possibilidades, por estudar a fé com seriedade e espírito científico; e tudo isso é teologia. Piedade de meninos, portanto, mas doutrina segura de teólogos.

O empenho por adquirir esta ciência teológica - a boa e firme doutrina cristã - deve-se em primeiro lugar ao desejo de conhecer e amar a Deus. Ao mesmo tempo, é consequência da preocupação geral da alma fiel por descobrir o significado mais profundo deste mundo, que é obra do criador. Com periódica monotonia, há quem procure ressuscitar uma suposta incompatibilidade entre a fé e a ciência, entre a inteligência humana e a Revelação divina. Essa incompatibilidade apenas pode surgir, e só aparentemente quando não se entendem os dados reais do problema.

Se o mundo saiu das mãos de Deus, se Ele criou o homem à sua imagem e semelhança e lhe deu uma chispa da sua luz, o trabalho da inteligência - mesmo que seja um trabalho duro - deve desentranhar o sentido divino que já naturalmente têm todas as coisas; e à luz da fé, percebemos também o seu sentido sobrenatural, que procede da nossa elevação à ordem da graça. Não podemos admitir o medo à ciência, porque qualquer trabalho, se for verdadeiramente científico, conduz à verdade. E Cristo disse: Ego sum veritas, Eu sou a verdade.

O cristão deve ter fome de saber. Desde o cultivo dos saberes mais abstratos até às habilidades do artesão, tudo pode e deve levar a Deus. Porque não há tarefa humana que não seja santificável, que não seja motivo para a nossa própria santificação e oportunidade para colaborarmos com Deus na santificação dos que nos rodeiam. A luz dos seguidores de Jesus Cristo não deve ficar no fundo do vale, mas no cume da montanha, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.
Trabalhar assim é oração. Estudar assim é oração. Pesquisar assim é oração . Não saímos nunca do mesmo: tudo é oração, tudo pode e deve levar-nos a Deus, alimentar o trato contínuo com Ele, da manhã até à noite. Todo o trabalho honrado pode ser oração; e todo o trabalho que for oração, é apostolado. Desse modo, a alma se robustece numa unidade de vida simples e forte.

É Cristo que passa - Editora: Quadrante - páginas 33 e 34

Um comentário:

  1. Adorei a parte que fala que o cristão tem que ter sede de saber! Muito bom!! !

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